domingo, março 23

Em dez minutos, neon

Surdos. Estavam surdos. Eles estavam rasgando-se, não que eles já não estivessem abertos, mas o faziam com descaramento, vontade de contrariar as leis da física e ocupar o mesmo espaço. A luz era só um instante, um detalhe que excitava. Cores derretidas naqueles corpos suados, dois jovens sem sexo. Contraídos, era mais de quatro e quinze ou talvez o tempo estivesse morto. Definitivamente eles pulsavam, quem eles eram afinal? Dois corpos que não se conhecem, estranhos sem rosto, duas bocas e era só. Aquele gosto enferrujado, riscado em suas linguas. Em alguns instantes pude ouvir os dentes se colidindo, eles queriam mais. Um tinha medo, era cauteloso e estranhamente parecia duvidar de suas próprias duvidas. Outro tinha pressa, tanta que sufocava-se dentro dela. Disse-lhe: Venere loucamente, erroneamente. O que eles querem de nós? Segundos de colidição, um atou as mãos do outro. O gênero esta errado eu sei, mas aprendí desde a infância a masculinizar os pronomes. Insisto, o que eles eram?

Não sei te dizer, eles se querem e não sabem. Um paradoxo sem vertentes, o mesmo paradoxo. O mesmo. Mesmo. Elas ou eles eram definitivamente um ser só se masturbando, em público. São demônios andróginos sem livre-arbítrio. São gêmeos.

A dor deles era não saber nem mesmo o que faziam, por que eles não faziam nada, só imaginavam. Um não quer nada e nem ao menos sabe que não quer, outro quer mais do que pode imaginar e mente em silêncio. Eles se odeiam e morrem de nojo, tentam entender a ausênica de sentimento. Os lábios parecem intímos e ainda parecem pré-destinados à aquele ato.
Eu tinha dito, eles não tem livre-arbítrio.
Eles são um só.
São um só.
Um só.
Só.

3 comentários:

Ele esteve aqui... disse...

Então...é por isso aí que adoro o que vc escreve! Esse como os outros tem essa intensidade e essa atmosfera gélida... essa puta brutalidade, no entando delicada...tragédias, loucuras, felicidade(?) que atrai, que trai[ do caralho)...Tão fortes que quase cheiram a éter...
Cngtl

Ele esteve aqui... disse...

Ps: perd�o por n�o passar con tanta frequ�ncia!

Anônimo disse...

Você escreve de uma forma MARAVILHOSA!
Meu, perfeito demais!

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