quarta-feira, dezembro 10

Ante Meridien

Sorri para o garoto da venda ao lado, sempre ouço seus gritos de madrugada, lamentando uma perda - talvez pudesse ser divertido tê-lo por perto.
Vi os furtos e trapaças mas deixei passar. Eu estava cercado disso, embora tivesse um sorriso cândido quase fluorescente. Os becos da Princess Street estão vomitando redenção. Isso é um pesadelo para meus negócios - esteve ruim, mas o tempo deu aos Galtieres fuga e domínio.
Ouvi de uma freira, outrora, que o garoto da venda estupra pequenos animais. Disse-me também que ele tem volúpia por homens casados e arrematou seu depoimento jurando que ele tinha um pacto com o demônio. Mas nunca ouvi os católicos, afinal, por eles eu estaria queimando.
As luzes deste lugar - não há como viver sem elas. Um só instante, quando os semáforos abrem e fecham, os carros com seus faroletes, o relógio das horas viradas. Talvez seja esse o motivo do garoto, não sei.
Comi uns hamburgueres sem pensar no futuro. Não penso nisso, nem nos meus sonhos mais profundos pensei.
Eu ri quando ele me chamou de Justine - Meu nome é King cara!
Ele era intuitivo e muito perturbado, talvez ele gostasse mesmo de pequenos animais.

6 comentários:

Marte disse...

Lindo texto amor. Sei que é uma guerra para que eu venha comentar aqui. Mas toda vez que venho e leio cada post, eu me sinto extasiada. Suas palavras são lindas.

Teamo.

muHh disse...

Tem como entrar no mundo que você trouxe em seus texto?
*______________O

Senti algo de Rodia nele.
O personagem da venda me conquistou mas você sempre me conquista todo vez que posta algo.

Amo seus contos, e este foi especial pois não tocou em meu ponto vunerável como os outros.
melhor assim.

-Tri disse...

O quão humano é o sentimento da dor? E o sofrer pelo outro, o qual tampouco conhece nada mais do que seu atual semblante. Incrivelmente egoísta seria se para nós mantivéssemos, apenas, nossas emoções.

Anônimo disse...

A narração de primeira pessoa, com disposições tendenciosas a onisciência intrusa, geralmente nos confunde. Tal prosa nos remete a indagações e julgamentos interpessoais que perpassam nossa imaginação sem uma definição justaposta.
Não temos seu narrador-protagonista, bem como também não temos o personagem da venda. O que temos é uma percepção unilateral e decidida, embora os marcadores conversacionais pressupostos não dessem conta de nos explanar a nuance harmônica e poética que narrativas pretenciosas costumam ter.
Por fim, passamos por processos de lapidação exacerbada ao longo do tempo, é certo que tomos aprimoramos a condução do texto !

Diяяty Violet disse...

"A narração de primeira pessoa, com disposições tendenciosas a onisciência intrusa..." geralmente confunde quem não tem o menor interesse em decifrar o que lê ou quem simplesmente não sabe ver coisas por diferentes ângulos.
Talvez todos nós tenhamos interesse por "pequenos animais"; talvez todos nós ficamos fascinados com a forma que as luzes brilham e isso nos hipnotiza à ponto de não sabermos como seriam as luzes em formas diferentes... a vida sob vizões diferentes e diversas coisas dentro disso em formas diferentes.
Talvez o mundo seja absolutamente doido e a única coisa que normaliza isso é a forma que estamos acostumados a ver suas variações. Não todas as variações, mas apenas uma face disso.

Anônimo disse...

Ora, em momento nenhum eu quis diminuir o seu trabalho, apenas constatar características da prosa que observei nele. São excelentes qualidades, que talvez, apenas talvez, se desenvolvam no tempo, bem como as minhas. Deve ter soado como um sino de crítica por causa da pretensão linguística e uso de palavras formais, quase técnicas da análise literária, mas isso é um puro e humilde treino de quem ainda tem muito o que aprender e de quem assume a preponderância da pretensão.
Desde já me redimo colocando o contraponto de que seu texto é incrível, e que a narração em primeira pessoa com onisciência intrusa é uma característica de Machado de Assis, um mestre em confundir leitores com esse recurso. Logo, nada que eu disse foi uma tentativa de inferiorizá-lo, mas sim de retificar o quanto gostei e fiquei satisfeito de ler, do contrário, não teria me esforçado para delinear idéias que me foram aprazíveis.

Perdão.

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