domingo, novembro 4

Tomo Único

Certa vez, imaginamos quanta vítalidade temos e quanto podemos resistir a tudo.
Porque nos iludímos com falsas esperanças, dizendo: tudo vai passar. Mas não vai passar e sabemos, somos seres melâncólicos, vivemos e construimos nossas vidas em cima de realizações, seja elas qual forem, ainda, que só as queira para obter felicidade, será por um breve momento. Quanto tocardes o topo, voltará para a melâncolia. Não faz sentido, continue e morra antes de alcançar, antes à frustração que o vazio e perder seu sentido de existência!
Você realmente existe?
Último relato dos "Fragmentos Secretos" de Rótis. Confessional e esclarecedor. Criado mês passado, após longas obervações em exercícios anteriores de curso. Não irei saudar esta leitura, realmente por não caber uma saudação neste contexto!

"E então as nuvens se abrirão para mim,
e vou encontrar meu Jesus Cristo.
E verei a história antes de mim.
Para o prazer e a paixão,
você sacrifica a tristeza.
Assim, tudo pode.
Como os rancores do chifre de Mefistófeles,
que vieram para minha alma."
Then The Clouds Will Open For Me - Placebo

10/09/2004

- Sinto a maiór de todas as dores. Remorso imperdoável.
Eu disse que acabaria com tudo e ainda não o fiz. Fomos à boate, estavam lá muitos conhecidos de Isaac, eles se animaram e a "sessão seringas" começou antes do normal. Estava cansado, minhas pernas doíam muito, disse a Isaac que iria embora e saí em meio a tantas companhias. Sentia-me só, completamente isolado dentro de minha gaiola de privações. Gaiola que eu criei, não bebo, não fumo e ainda nem suporto olhar aquelas seringas. Precisei de uns segundos longe daquele social todo. Encostei em algum lugar meio escuro, três garotas bêbadas riam e falavam algo de como matar seus pais, não importa. Tive exatos três minutos, meus, totalmente só com minha mente confusa.
Quando perto do final disso, minha mente se rejubilava em Placebo, Isaac chegou. Acompanhado de tantas palavras, a sua volta giravam muitas conversas, mesmo ele vindo só. Eu sempre o enxerguei assim, vivaz, tirava disso conforto e porque não inveja. Afinal, vivaz é tudo que não me define. Senti seus olhos pesados em cima dos meus, um peso admiravelmente estranho. Indaguei o que havia acontecido e ele me pegou pela mão e disse: - "Vamos cair fora, a Líli daqui a pouco está ai!".
Quem disse a ele, que eu queria evita-la, eu queria poder mostrar a ela o quão a desprezava. Mas sou inerte e ele me levou sem se quer um ruído de objeção de minha parte. Repetiu várias vezes ao longo do caminho, que me considerava muito. Estava com medo, Isaac não foi capaz de desejar felicidades a seu pai, quando ele se casou de novo. E seu único comentário foi: - "A filha dela é uma delícia!" referindo-se a Aiko, filha de sua então, madrasta.
Subi aquelas escadas cinzas pela segunda vez, e isso, me intimidava muito. Meu alívio era não tê-lo escorado em mim, para subi-las, como na primeira vez. Entrei e pensei logo na cara que Alícia faria se me visse ali. Ele indagou sobre ter a deixado lá, dizendo sobre seu porre do dia anterior mas ele falava com desprezo. Após muitas porcarias ditas, decidimos fazer aqueles jogos de falar a verdade. Não gosto disso, isso me irrita e além de que não iria realmente dizer a verdade. Ele estava confiante, me fez perguntar sobre tudo e tudo parecia razoável, logo eu iria dar o maço de cigarros e definitivamente sumir de sua vida. Antes que eu tomasse coragem para cumprir meu objetivo, ele falou algo realmente perturbador. Perguntou: - "Então, sabe como é, verdades devem ser ditas, e como você é delicado... Ó só, você já teve relações homossexuais?".

Tive uma série de reações, e não podendo mais fugir daquele questionamento, me surgiu fugir daquele local e dele, para sempre. Levantei com aspereza, e saí pela porta com muita indiferença, por dentro meu coração quebrava-se de dor e as lágrimas vinham nos olhos, mas segurei firme, como nunca havia feito. Era o momento de quebrar as correntes e enfim. Ele, pela primeira vez, pensou com medo no que tinha acabado de fazer. Saí do hall, e comecei a passos fortes me distanciar de lá. Mas me surpreendi, com um grito de desespero de Isaac: - “Não Rótis, por favor meu, me ouve um minuto!”.
Estava quase adivinhando o que ele ia dizer, mas me permiti o esperar e ver o que ele diria. Ele me olhou e o fez com muita pureza e foi quando comecei a perder a capacidade de raciocínio. Impossível, ele não...
- "Rótis, me perdoa? Nunca quis te machucar, e sei que é só o que tenho feito”.
Anestesiei-me e nada disse, abaixei minha cabeça e minhas lágrimas escorreram finalmente. Ele se aproximou e me abraçou, com muita força. Olhou em profundo meus olhos e aproximou seu nariz gelado na minha bochecha. Fechei os meus e precedi o que viria a seguir. Sem resistir, nos beijamos com muita tenacidade, contei cada segundo. Mas um grito maldito, cortou o ar. Ela novamente em meu caminho, Alícia estava totalmente machucada e suja, senti pena dela. Logo vi Isaac e ela aos gritos, eu tapei meus ouvidos, não queria sofrer com aqueles insultos, entre eles muitos ditos a mim. Ele a expulsou, e me tomou pela mão me levando para o prédio, eu olhei para trás e a vi, desmantelada e caída em choro. Não a queria desse jeito, nem se quer a odiava, eu acho, sei que a culpa nessa hora estava praticamente me sufocando já.
Ao subir, o que eu temia, transamos. Dizem que quanto mais perto da sabedoria nossa alma estiver, nosso corpo estará a profanidade. Não posso suportar isso. Ali assinei meu testamento. Não há mais escolha. Antes que nada possa ser escrito, registrei como último hábito o momento em que me libertei da gaiola e de que morri por não saber voar.
A colt 38 está carregada, me perdoe Isaac. Perdoe-me...

Guardando o diário abaixo do colchão e fitando a última vez Isaac em sono profundo.
À bala sai do revólver, girando seu tambor as exatas 3:14 da madrugada, em 11 de setembro de 2004.

6 comentários:

Anônimo disse...

TUDO QUE EU JÁ TE FALEI NO MSN!!!

Perfeito!
Adoro seus textos, você será vizinho de meu castelo! hahahaha

;**

Anônimo disse...

você descreve bem uma situação intensa em sexualidade mas que exprime principalmente uma relação etérea nesse sentido (porém, fundamental), o que pode ser apenas minha interpretação, mas careço de textos que a permitam, visto que me disponho a relevar o subjetivismo próprio de uma verdadeira obra de arte. são raros os textos os quais se é possível fazer um comentário que beire a contradição devido a sua amplitude, o que gosto muito de fazer.

ass: pseudo-artaud

Unknown disse...

LUTO!

Já tinha em meus pensamentos essa verdade, mas por mais que seja evidente, e o tanto que me questionou os motivos de outra pessoa ter matado Rótis, eu ainda esperava por uma resposta brilhante sua. Na verdade eu resava por essa resposta brilhante, era a 'ponta de alegria na minha tisteza', mas creio que tenha lutado pelas evidências.
A narativa é brilhante, já a havia comentado. Mas. Essas horas Rótis está no inferno, e isso me deixa mal.

Unknown disse...

Eu estava no quarto com ele na hora do disparo,felizmente pude ver tudo........seu texto tem a capacidade de me levar para dentro da situação.....pra mim isso diferencia um texto de um bom ou otimo texto...fico com a segunda opção em relação aos seus devaneios....

Unknown disse...

Passado o efeito da perda.

Estou triste ainda, Rótis era eu na história e eu me senti morto.
Nunca farei o mesmoq ue ele, embora eu tenha vontade de partir pra algum desses destinos dos fracos, agora eu sofro ter a certeza que rótis era fraco, e que não encontrou a verdadeira saida!


Mas sobre a leitura, foi maravilhosa, passei minutos aqui pensando em frente ao computador e até na hora de dormir a história não saia da minha cabeça, fui até alertado de que tudo não pasaria de uma história, mas sabe quando tudo parece tão real ?

Isso se deve a brilhante escrita de tal pessoa. Obrigado!

Anônimo disse...

Tenho um punk no exato momento...
Bom...acho que depois disso Rótis pode encarar sua eternidade atormentado por um momento de extase!! Livre finalmente
Triste, mas acho que agora ele está livre..

Dos eficazes

  • The theory of transnormativity as solution of conflicts between the international law and the brazilian internal law.Monografia apresentada ao Curso de Pós...
  • Recentemente o Governo Federal lançou a campanha “Vai ter Copa” nas redes sociais. Governo e seus apoiadores imediatamente começaram a produzir artig...
  • Aquele cansaço incomum resolveu,enfim, abandonar o meu corpo. Desde a minha primeira caminhada, senti uma certa renovação. Mas será mesmo que estou curad...
  • Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que...
  • Existe uma terra perdida, no meio do nada, chamada por muitos de Deserto Maldito. Chamam-no assim porque, apesar de lá existir várias árvores e um grande l...
  • Quem nunca teve?! E os temas são os mais diversos, dependendo do gosto (trauma) do cidadão... Os termos é muito legado à BDSM (Bondage, Dominação, Sado & M...
  • O amor é uma espécie de preconceito. A gente ama o que precisa, ama o que faz a gente se sentir bem, ama o que é conveniente. Como pode dizer que ama uma p...